Vocação à perfeição ou Vocação à santidade?
... Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é
perfeito (Mt. 5,48)
Pode até assustar e desanimar: “chamado a ser
perfeito”. Quem é perfeito? O que é perfeição?
Na compreensão popular, “perfeição” facilmente é
entendida como algo, ou, no caso de uma pessoa vocacionada, alguém “acabado”,
sem falha, sem mancha, sem irregularidade, sem pecado, sem incoerências, sem
imperfeições, etc. Tudo prontinho, certinho, tudo bonitinho, tudo perfeitinho.
Mas isso não existe! É por isso que a palavra interpretada deste modo assusta,
pois significaria um ideal inalcançável. E mais ainda, sem querer a pessoa pode
pensar que Deus espere que ela seja assim já, hoje ou amanhã, já no início de uma
caminhada vocacional, tanto para o matrimônio quanto para a vida consagrada ou
presbiteral.
A palavra original usada em Mt. 5,48 e em algumas
línguas traduzida para “perfeito” é teleios,
palavra que indica mais o significado de “ser orientada para”, conhecer os
limites, ser maduro ou ainda vir-a-ser pleno através de purificação. Agora
então é outra história... Agora se torna um ideal alcançável, possível. Como
assim?
Gosto de usar a imagem da fruta que cai da árvore.
A fruta sadia cai do pé quando alcançou a sua maturidade, a sua plenitude. Não
pode crescer, desenvolver mais, chegou ao seu auge. Mas quando cai madura,
muitíssimas vezes tem alguma deformação, uma mancha de ferrugem, um buraquinho
por onde perpassou um bichinho. E mesmo não sendo perfeita, como popularmente é
entendido, está plena, madura.
Trazendo este exemplo para a vida humana e para o
cristão, ser chamado à perfeição significa ser chamado à plenitude, à
maturidade. E para alcançar isso, às vezes se torna necessário aprender a ser
menos perfeito. As pessoas que se autodenominam “perfeccionistas” buscam ser e
fazer tudo e sempre certinho, não admitem falhas, erros, pecados, não querem
“perder tempo” com descanso, lazer e às vezes até com a oração silenciosa. Para
essas pessoas, os próprios sentimentos e emoções são considerados como
atrapalho e, por isso, não poucas vezes, os negam, escondem ou se irritam por
terem uma vida interior que não conseguem controlar.
Ora, se Deus se fez homem, assumindo em tudo a
condição humana, menos o pecado, por que o ser humano não se aceita com tudo o
que é, para, a partir do seu ser, inclusive, e eu diria, justamente com as suas
limitações, caminhar e se desenvolver em direção à plenitude, deixando-se
santificar pela graça divina?
Somos chamados a ser plenos enquanto pessoas
humanas, e não enquanto anjos, que seremos somente quando deixarmos a vida
terrena.
Pe. Matthias
J.A. Ham